Impacto

Com cortes, UFPel e IF podem fechar as portas

Redução de 30% das verbas do MEC preocupa reitores das universidades e institutos da região, que temem fechar as portas antes do final do ano

Carlos Queiroz -

Após o anúncio de corte de 30% do orçamento das universidades e institutos federais de educação, o clima nas instituições é de preocupação. Tanto a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) como o Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) temem precisar fechar as portas por não ter verba para o custeio diário até o final de 2019. O anúncio do corte veio nas palavras de Arnaldo Barbosa Lima Junior, secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC). Ao todo, são mais de 60 universidades federais e cerca de 40 institutos que serão afetados.

No mesmo dia, o ministro Abraham Wintraub, titular do MEC, havia anunciado que o corte afetaria apenas as Universidades de Brasília (UnB), Federal da Bahia (UFBA) e Federal Fluminense (UFF), com o argumento de que as instituições estariam fazendo "balbúrdia". A medida foi encarada como um ataque político às universidades. Mesma análise feita pelo reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal. Na manhã desta quinta-feira (2), o ministro Wintraub vinculou a aprovação da Reforma da Previdência à mudança na medida, já que possibilitaria alteração no cenário econômico.

Chantagem infantil
O corte na UFPel será de R$ 23,2 milhões. A notícia foi recebida pelo reitor com descrédito e também é considerada uma perseguição às instituições de ensino públicas do país. "Um ato infantil de tentativa de chantagem pela aprovação da Reforma da Previdência", condenou o Hallal. O reitor lembrou que 90% da produção científica e de conhecimento no Brasil são oriundos de instituições federais. "É um ataque da administração do país contra as universidades federais. Não faz sentido. É incoerente. Chega a beirar o ridículo".

A redução das verbas atinge em cheio gastos como telefonia, internet, energia elétrica, combustível, limpeza, portaria e vigilância feito por terceirizados. "É um governo que na área da educação ainda não começou a governar. Ainda está na época da campanha política, de dizer que na universidade todo mundo é comunista, de esquerda. Isso é mentira", criticou o reitor. Hallal citou como exemplo um recente evento, organizado por professores liberais, que debateu a cobrança de mensalidade em universidades públicas, e a instituição cumpriu, na sua opinião, seu papel de ser um local de debates.

"Esse ataque não tem lógica econômica. É perseguição política. Há uma compreensão equivocada de que nas universidades ninguém gosta do governo. Em números de economia é medíocre. Não vai solucionar os problemas do país". O reitor ainda adiantou que uma carta deve ser lançada pela reitoria direcionada à sociedade brasileira.

Mais dificuldade
"É impossível fechar nossas contas com um corte desses", anuncia o reitor Flávio Nunes, do IFSul. Como o custeio envolve também a assistência, que não sofrerá o corte, aumenta o percentual de diminuição de recursos em 37,1% a menos, faz as contas o reitor. O corte pode gerar, somente na reitoria, a demissão de 19 pessoas que prestam serviço para empresas terceirizadas de limpeza, vigilância e portaria. Nunes informa que o instituto já vinha tomando diversas medidas de contenção nos 14 campi distribuídos pelo Estado.

Hoje são cerca de 24 mil alunos matriculados. Onze campi estão em fase de implementação, o que requer investimentos em infraestrutura. Diferente do divulgado pelo governo, que um estudante custaria R$ 30 mil, no IF cada estudante tem um custo em torno de R$ 12 mil ao longo do curso, indica Nunes. "Alguns dos nossos campi não possuem nem quadra poliesportiva. Nos recursos de investimento tivemos redução de 62%. Então é um cenário muito difícil. Agora o momento é de mobilização pra mostrar a importância pro MEC, pro governo de investir na educação, que dá sim muitos resultados. Não vamos baixar a cabeça, vamos continuar lutando por uma educação de qualidade", complementa.

Na Furg, aula só até o meio do ano
No prognóstico na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), os gastos disponíveis para custeio dão conta até o mês de junho. Para o segundo semestre, a reitora Cleuza Dias não sabe como manter as portas abertas. "Este bloqueio de 30% inviabiliza grande parte das atividades, não vai ser possível honrar com água, luz, telefonia", relata. A Furg tem gastos fixos anuais de R$ 30 milhões. De um total de R$ 40 milhões previstos, foram bloqueados R$ 14 milhões. "Como vamos manter atividades sem luz, sem água?", questiona. Cleuza também cita a importância da universidade no município, onde também está introduzida em consultorias para o Porto e no setor da pesca.

Situação desesperadora na Unipampa
Por nota, a Universidade Federal do Pampa também demonstrou preocupação. Com 15 mil alunos e dez unidades em diferentes municípios, o corte na instituição é de R$ 18 milhões. "A situação se torna desesperadora à Unipampa, uma vez que muitas estruturas e serviços estão sendo implantados, por se tratar de uma instituição jovem, e a diminuição de sua capacidade de crescimento afronta o interesse social. Os gestores máximos deste país têm que entender que existem políticas de Estado que precisam ser respeitadas e cumpridas, pois foram concebidas e estabelecidas por meio da sociedade, e que não podem ser desconsideradas pelo gestor ou política do momento. A Unipampa utilizará todos os expedientes do diálogo para reverter e sensibilizar a atual gestão do MEC, a fim de garantir a missão desta instituição, que é educação do Ensino Superior de qualidade, laica e gratuita".

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